Como o Exército ucraniano capturou dois chineses lutando ao lado da Rússia?
Soldados da China foram feitos prisioneiros por tropas da Ucrânia durante confrontos recentes no leste do país
Internacional|Do R7

A guerra na Ucrânia ganhou um novo elemento de tensão nesta semana, após Kiev anunciar a captura de dois cidadãos chineses que estariam combatendo ao lado das forças russas na região de Donetsk. A presença de soldados de nacionalidade chinesa no front, até então inédita de forma oficial, acendeu um alerta diplomático e elevou o tom das cobranças a Pequim, cuja postura de neutralidade no conflito começa a ser questionada com mais força por Kiev.
Os dois homens foram feitos prisioneiros por tropas ucranianas durante confrontos recentes no leste do país. Segundo o governo, estavam integrados a unidades russas e carregavam documentos, cartões bancários e dados pessoais que confirmam sua origem chinesa. Um vídeo divulgado pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, nas redes sociais mostra um dos detidos descrevendo os combates dos quais teria participado.
Our military has captured two Chinese citizens who were fighting as part of the Russian army. This happened on Ukrainian territory—in the Donetsk region. Identification documents, bank cards, and personal data were found in their possession.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) April 8, 2025
We have information suggesting that… pic.twitter.com/ekBr6hCkQL
Leia mais:
“A Inteligência sugere que não se trata de um caso isolado. Há indícios de uma presença chinesa mais ampla entre as forças russas”, afirmou Zelensky, ao cobrar explicações formais de Pequim.
O presidente ainda ordenou que o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, acionasse imediatamente o governo chinês. Até o momento, não houve resposta oficial da China.
A revelação da nacionalidade dos combatentes prisioneiros não foi imediata. Inicialmente, os militares ucranianos acreditavam se tratar de soldados norte-coreanos.
“Levou tempo até confirmarmos que estavam falando chinês. Agora, estamos investigando a possibilidade de haver mais mortos ou feridos entre eles”, declarou uma autoridade ucraniana sob anonimato à Reuters.
A presença de estrangeiros nas linhas russas não é novidade, mas a inclusão de cidadãos chineses no campo de batalha, ainda que sob contrato individual, representa um potencial divisor de águas nas relações entre Ucrânia e China. A avaliação em Kiev é de que, mesmo sem envio oficial de tropas, a participação de cidadãos chineses compromete a credibilidade do discurso pacifista de Pequim.
“A China se apresenta como mediadora e defensora da paz. Mas o envolvimento de seus cidadãos na agressão russa contradiz esse papel”, disse o chanceler Sybiha, que também convocou o encarregado de negócios da China em Kiev para prestar esclarecimentos.
Desde o início da guerra, a China tem evitado condenar diretamente a invasão da Ucrânia e vem mantendo uma aliança diplomática e econômica com Moscou. Apesar de não fornecer armamentos letais, Pequim tem sido acusada por Kiev e seus aliados ocidentais de sustentar a máquina de guerra russa com tecnologia, insumos e retaguarda financeira.
O caso também reacende a comparação com o apoio militar mais explícito da Coreia do Norte à Rússia. No ano ado, tropas norte-coreanas teriam sido enviadas à região de Kursk, dentro do território russo, para combater as forças ucranianas que avançaram sobre a fronteira. A diferença, segundo Zelensky, é que “os norte-coreanos estavam lutando em solo russo. Os chineses foram capturados dentro da Ucrânia”.
O anúncio da captura ocorre num momento sensível, com os Estados Unidos tentando reduzir sua exposição no conflito e pressionando por um cessar-fogo negociado, ao mesmo tempo em que a rivalidade com a China cresce em múltiplos fronts — do comércio, por meio de tarifas, à segurança global.
Para o governo ucraniano, a descoberta reforça a tese de que Moscou busca expandir sua rede de apoio externo e prolongar a guerra a qualquer custo. “Putin não quer encerrar o conflito, apenas encontrar novas formas de mantê-lo vivo. Isso exige uma resposta do mundo que ainda acredita na paz”, concluiu Zelensky.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp