Aeroporto feito pela China por R$ 1 bi recebe um voo internacional por semana no Nepal
Investigação nepalesa afirma que Pequim deixou de realizar diversas etapas da obra e ainda assim foi remunerada
Internacional|Do R7

Uma investigação parlamentar revelou um esquema de corrupção envolvendo o aeroporto internacional de Pokhara, no Nepal, construído por uma empreiteira estatal chinesa. O relatório aponta que a empresa de Pequim recebeu pagamentos por obras não concluídas, usou materiais de baixa qualidade e foi isenta de impostos que deveria ter pago, tudo com o aval de autoridades e parlamentares nepaleses.
O documento, com 36 páginas, foi divulgado na quinta-feira (17) por um comitê da Câmara dos Deputados do Nepal. O relatório detalha falhas graves cometidas pela China CAMC Engineering, subsidiária da estatal chinesa Sinomach, responsável pela construção do aeroporto de US$ 216 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) inaugurado em 2023.
Segundo os parlamentares nepaleses, a empresa ignorou cláusulas contratuais, deixou de realizar diversas etapas da obra e ainda assim foi remunerada. Entre os trechos não executados estão a escavação e a preparação da pista, além da instalação de sistemas de abastecimento de combustível e climatização. A empreiteira também teria deixado de pagar cerca de US$ 16 milhões (R$ 92 milhões) em impostos de importação, apesar da obrigatoriedade contratual.
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O aeroporto de Pokhara foi financiado por um empréstimo de 20 anos do Banco de Exportação e Importação da China. A expectativa era que os lucros com voos internacionais cobririam os pagamentos do financiamento. No entanto, apenas uma rota internacional opera atualmente no terminal, o que compromete a arrecadação.
Oficialmente, o aeroporto é apresentado por Pequim como um projeto emblemático da Iniciativa do Cinturão e Rota, plano global de infraestrutura lançado pelo presidente Xi Jinping. Mas o governo do Nepal evita associar a obra ao programa chinês, temendo repercussões diplomáticas com a Índia, seu vizinho e parceiro comercial.
Em 2023, uma reportagem do jornal The New York Times já havia revelado indícios de superfaturamento e falta de controle de qualidade na obra. A Autoridade de Aviação Civil do Nepal, responsável pela supervisão, teria evitado confrontar a CAMC para não prejudicar a relação com Pequim.
Após a publicação, um comitê parlamentar com 11 membros iniciou uma investigação formal. A apuração resultou na recomendação de suspensão de altos funcionários da agência de aviação, incluindo o diretor-geral, sob risco de destruição de documentos.
“O nível de corrupção é gigantesco. Os responsáveis precisam ser punidos”, afirmou Rajendra Lingden, presidente do comitê.
A CAMC e o governo chinês não se manifestaram sobre o relatório. A Autoridade de Aviação Civil do Nepal também não se posicionou.
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