Habitar o presente: as micro e pequenas empresas e a urgência da sustentabilidade
Atualmente, 32,7% dos pequenos empresários brasileiros adotam práticas relacionadas à economia circular
Brasília|Décio Lima, presidente do Sebrae, para o R7

“O futuro cria o presente.” A frase do escritor e futurista Thomas Frey é extremante oportuna neste momento que antecede a realização, no Brasil, da COP 30, quando não se questiona mais a realidade da tragédia climática que atinge o planeta.
É com este espírito de revolucionar o nosso presente para tornar viável o futuro, que cientistas, líderes e organizações de todas as partes do mundo estarão reunidos em Belém (PA).
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Boa parte das atenções estarão voltadas para as principais potências econômicas e as grandes corporações que, no papel de maiores emissores de gases de efeito estufa, precisam assumir compromissos à altura das suas responsabilidades. Mas não podemos nos esquecer nesse debate das micro e pequenas empresas (MPE), que representam, no contexto mundial, cerca de 90% de todos os negócios, responsáveis por 50% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
Com sua agilidade e capacidade de adaptação, as MPE podem ser as primeiras a implementarem soluções inovadoras e sustentáveis, dando uma contribuição fundamental para a construção de alternativas voltadas para novas práticas econômicas. A partir da reutilização, reparação, reciclagem e recuperação de materiais, os pequenos negócios podem, dentro da economia circular, ser o contraponto ao modelo linear de extração, produção, consumo e descarte, utilizando os recursos de forma mais eficiente e sustentável.
A importância de envolver os pequenos negócios na luta contra a crise reside, portanto, em primeiro lugar, na sua vasta presença e influência econômica. Somadas, as pequenas ações de milhões de MPE em todo o mundo podem gerar um impacto significativo na redução das emissões de carbono, na conservação de recursos naturais e na promoção de práticas sustentáveis.
Atualmente, 32,7% dos pequenos empresários brasileiros afirmam já adotarem práticas relacionadas à economia circular, com redução de resíduos gerados e aproveitando ao máximo os recursos, incentivando a reutilização, reparação e reciclagem, minimizando o impacto ambiental.
Em segundo lugar, as MPE são incubadoras de inovação e criatividade. Muitas vezes, são elas que desenvolvem soluções disruptivas e tecnologias limpas que podem ser replicadas em larga escala. Por estarem mais próximas das comunidades locais, essas empresas conseguem ainda adaptar suas práticas às necessidades específicas de cada região, tornando-as mais relevantes e eficazes.
Por fim, as micro e pequenas empresas desempenham um papel fundamental na criação de empregos verdes e na promoção do desenvolvimento social. Ao adotarem modelos sustentáveis, elas podem gerar novas oportunidades de negócios e empregos em setores como energias renováveis, agricultura orgânica, ecoturismo e reciclagem. Um exemplo prático é o projeto pró-catadores do Sebrae que vai atender mais de 4,6 mil catadores e 211 cooperativas.
Como lembra o filósofo e imortal Ailton Krenak, o futuro é ancestral. A urgência climática nos impele a inovar, mas a verdadeira revolução reside em reconhecer a sabedoria esquecida de nossos anteados. Eles compreendiam a intrínseca ligação entre o ser humano e a natureza, uma simbiose que o progresso desenfreado obscureceu.
Para construir um futuro sustentável, precisamos desaprender a lógica predatória e reaprender a harmonia, reconhecendo que somos parte integrante de um sistema vivo e interdependente.
Ao resgatarmos essa percepção, podemos construir uma economia que não apenas mitigue os danos, mas que promova a regeneração e a harmonia entre todas as formas de vida.
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