Em meio à COP30, Brasil põe em risco protagonismo ao lidar com contradições ambientais
Desmatamento e discussão sobre possível exploração de petróleo na Amazônia podem gerar efeito contrário na influência global
Brasília|Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

A agenda ambiental da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que será sediada em Belém em novembro, abre oportunidades para a retomada do protagonismo do Brasil sobre a redução de impactos ecológicos.
Entretanto, os índices de desmatamento e a discussão sobre a possível exploração de petróleo na Amazônia podem pôr em risco a capacidade do país em dar andamento e influenciar os demais países para o cumprimento das metas da conferência, apontam especialistas.
A professora de Relações Internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Cristina Pecequilo entende que existem contradições entre as metas estabelecidas pelo Brasil na COP e o andamento de discussões ambientais no país.
O Dia Mundial do Planeta Terra, comemorado nesta quinta-feira (22), foi criado em 22 de abril de 1970 pelo senador norte-americano Gaylord Nelson. Nesta ocasião, ele liderou um ato pela preservação do meio ambiente, que ocorreu nas cidades de Washingto...
O Dia Mundial do Planeta Terra, comemorado nesta quinta-feira (22), foi criado em 22 de abril de 1970 pelo senador norte-americano Gaylord Nelson. Nesta ocasião, ele liderou um ato pela preservação do meio ambiente, que ocorreu nas cidades de Washington, Nova York e Portland, nos Estados Unidos. O movimento reuniu milhões de pessoas e alertou sobre problemas como poluição, desmatamento e efeito estufa. Aproveitando a data, o R7 conversou com Mariana Vale, professora associada do Departamento de Ecologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e membro do Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), que indicou 7 ações individuais e coletivas para serem praticadas em prol da saúde do planeta
A especialista entende que a realização da COP30 é importante para o país, porém, nem todas as expectativas serão cumpridas na reunião.
Cristina aponta que as dificuldades para o cumprimento das metas serão geradas, principalmente, pelas dificuldades econômicas do sistema internacional e pela forma que o Brasil lida com grupos que exploram ilegalmente o meio ambiente no país.
Além disso, a tensão entre os Estados Unidos e China também deve causar interferências no andamento dos objetivos.
“Existem contradições, mas, ao mesmo tempo, o Brasil não pode renunciar a seu desenvolvimento sustentável. Há muito mito sobre essa questão de exploração do petróleo na região equatorial. Não é exatamente na Amazônia. Mas eu até me preocuparia menos com isso e mais, realmente, com a questão da degradação dos biomas de uma maneira geral. Embora o governo Lula tenha um compromisso ambiental mais declarado, os esforços têm sido dificultado pela resistência de setores econômicos”, comentou Pecequilo.
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Em quase dois anos, por exemplo, a degradação florestal na Amazônia saltou de 7.925 km² para 34.013 km² — aumento de 329% —, segundo uma pesquisa do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que considera os períodos de agosto de 2023 a março de 2024 e agosto de 2024 a março de 2025. O resultado é o maior da série histórica, iniciada em 2008.
Para o cientista político do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha Maurício Santoro, o Brasil não está lidando da melhor forma com a preparação da COP30, principalmente, no que se diz respeito as dificuldades de infraestrutura para o evento e temas ambientais.
O especialista aponta ainda faltam nas lideranças brasileiras uma maior sensibilidade com temas relacionados ao ambiente, em essencial, devido aos fenômenos climáticos extremos notificados no país em 2024, como as enchentes no Rio Grande do Sul e seca na Amazônia.
“É importante ter uma COP na Amazônia, mas Belém, por exemplo, tem um déficit muito grande. A meu ver, os governos brasileiros, tanto o local, quanto o nacional, não estão conseguindo enfrentar bem essa questão de infraestrutura”, aponta Santoro.
Segundo ele, outro problema aparece com as divisões dentro governo na questão do meio ambiente.
“Desde o início do governo Lula tem se manifestado sobretudo na questão de explorar ou não o petróleo na margem equatorial, que é uma coisa que, por exemplo, as autoridades ambientais tem sido contra”, completa Santoro.
Exploração na Amazônia
Em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a autorização por parte do Ibama para a Petrobras poder perfurar poços em busca de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial. Apesar do potencial da região, a exploração é criticada pelos ambientalistas.
“Nós precisamos autorizar que a Petrobras faça pesquisa. Se depois a gente vai explorar, é outra discussão. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo. Nós queremos que o governo diga qual é a vontade”, discursou.
Lula ainda definiu a Petrobras como uma empresa responsável: “Nós vamos cumprir todos os ritos necessários para não causar nenhum estrago na natureza”.
Aqueles que são favoráveis à iniciativa recorrem aos possíveis ganhos econômicos da empreitada. Ainda não se sabe o potencial exato da região, mas o Ministério de Minas e Energia estima reservas de 10 bilhões de barris de petróleo, com geração de 350 mil empregos.
A área tem sido chamada de “novo pré-sal”. Sem a exploração, a Petrobras calcula que o Brasil pode voltar a depender do petróleo estrangeiro em cerca de 10 anos. O pedido de licença da estatal foi feito em 2013 — ou seja, a discussão se arrasta há mais de 20 anos.
Degradação na Amazônia
Apesar de estarem ligados, a degradação ambiental é diferente do desmatamento — retirada total da vegetação de determinada região. Já a degradação é caracterizada pela perda parcial da cobertura vegetal.
Uma pesquisa do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) explica que o aumento da degradação na floresta se dá, principalmente, devido às grandes áreas atingidas por queimadas entre setembro e outubro do ano ado.
O Pará foi responsável por 91% da degradação registrada em março, com 188 km². O Maranhão aparece em segundo lugar, com 9 km² (4%), e Roraima em terceiro, com 8 km² (4%). A degradação restante ocorreu em Mato Grosso, 1 km² (1%).
Na contramão do período total analisado, março, com 206 km² de degradação na floresta, teve redução de 90% em relação ao mesmo mês do ano ado, que havia registrado o maior índice da série histórica para o período, de 2.120 km².
No ano ado, por exemplo, a área queimada no Brasil superou 30,8 milhões de hectares, um aumento de 79% em relação a 2023. Segundo dados do MapBiomas, que consideram os meses de janeiro a dezembro, a região incendiada foi maior que todo o território da Itália.
Além da degradação, a pesquisa aponta um aumento de 18% nas áreas desmatadas da Amazônia em oito meses. A análise foi feita durante o “calendário do desmatamento”, referente ao período de chuvas no bioma, que considera agosto de um ano a julho do ano seguinte.
Tensão entre EUA e China
Em meio à tensão comercial entre China e Estados Unidos, o governo brasileiro pode enfrentar desafios na tomada de decisões e andamento das metas para a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que ocorrerá em Belém (PA) em novembro.
Com o foco na economia das potências e nas consequências da guerra comercial, é provável que o orçamento para lidar com questões ambientais não seja a prioridade dos governos chinês e norte-americano.
A conferência é realizada visando tomar decisões para implementação de compromissos assumidos por países no combate às mudanças climáticas. Nesta edição, o Brasil será o país anfitrião do evento, o que, segundo o governo, permitirá a reafirmação do papel de liderança nas negociações sobre mudanças climáticas e sustentabilidade global.
Além disso, o governo brasileiro espera mostrar os avanços feitos em áreas como energias renováveis, biocombustíveis e agricultura de baixo carbono.
Pela primeira vez, o governo chinês esclareceu que as NDCs (contribuições nacionais determinadas), ou seja, o plano de ações climáticas de cada país, vão abranger todos os setores econômicos, informou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres.
Na ocasião, o representante também cobrou líderes globais a tomarem ações na elaboração de planos estratégicos para ajudar na aceleração da transição energética, além de pedir para as principais potências aumentarem o apoio aos países em desenvolvimento.
As contribuições adotadas pela China tem peso grande na COP30, em especial devido aos grandes níveis de poluição no país, gerados, principalmente, pela matriz energética arcaica, que ainda é dependente do carvão e combustíveis fosseis.
Entretanto, o cientista Maurício Santoro explica que existe uma pressão global para a nação asiática ser mais ativa nas questões ambientais, apesar do esforço que o país vem fazendo.
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