Alckmin reforça diálogo sobre tarifas de Trump: ‘Caminho não é olho por olho, senão fica cego’
Equipes técnicas vão se reunir nesta sexta para continuar conversas; nova taxa ou a valer, inclusive para o Brasil, nessa quarta
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou nesta quinta-feira (13) a opção brasileira pelo diálogo e pela diplomacia na discussão sobre as taxas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As tarifas de 25% para todos os produtos de aço e alumínio importados pelos norte-americanos, inclusive do Brasil, começaram a valer nessa quarta (12). Nas últimas semanas, o governo brasileiro tem mantido conversas com as autoridades americanas para tentar chegar a um acordo.
“Entendemos que o caminho não é olho por olho. Se fizer olho por olho, vai ficar todo mundo cego. O caminho é ganha-ganha. Comércio exterior é ganha-ganha, é reciprocidade e buscar o diálogo. É isso que vamos fazer”, declarou Alckmin.
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Nesta sexta, equipes técnicas dos dois países vão debater o assunto por meio de videoconferência. O vice-presidente não participará da reunião. As conversas têm sido lideradas, pelo lado brasileiro, pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), pasta chefiada por Alckmin.
O vice-presidente voltou a afirmar que o Brasil “não é problema” para os Estados Unidos e lamentou a decisão do republicano. “É uma medida que não foi contra o Brasil. Foi uma medida geral, não foi específica. Nós entendemos equivocada, porque, primeiro, o Brasil não é problema na questão comercial. Os EUA têm déficit comercial no mundo todo, mas não têm com o Brasil, tem superávit. 72% do que eles exportam para o Brasil não tem imposto”, acrescentou.
Nessa quarta, quando as taxas entraram em vigor, Alckmin não descartou o Brasil acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio). A organização, da qual Brasil e EUA fazem parte, é um organismo multilateral responsável por regular o comércio entre os países membros.
“É uma possibilidade. Nós defendemos multilateralismo, nós defendemos complementação econômica, e a OMC existe para isso, para estabelecer regras que devem ser regras gerais para todos”, afirmou, ao citar eventuais “outras medidas”, embora não tenha detalhado quais. “Isso encarece produtos e dificulta o comércio. [Foi uma] medida tomada de natureza unilateral, e o Brasil avaliará também outras medidas a serem tomadas”, acrescentou.
Brasil criticou decisão de Trump
Em nota, o governo brasileiro criticou a determinação de Trump. No texto, a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a destacar que o comércio com o Brasil é superavitário para os EUA. O documento chamou a decisão do republicano de “injustificável e equivocada”.
“Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países”, diz trecho da nota, assinada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e pelo Ministério das Relações Exteriores (leia o texto completo abaixo).
Nota completa do governo brasileiro:
O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 12 de março, de elevar para 25% as tarifas sobre importações de aço e de alumínio dos EUA provenientes de todos os países e de cancelar todos os arranjos vigentes relativos a quotas de importação desses produtos. Tais medidas terão impacto significativo sobre as exportações brasileiras de aço e alumínio para os EUA, que, em 2024, foram da ordem de US$ 3,2 bilhões.
Em defesa das empresas e dos trabalhadores brasileiros e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo brasileiro considera injustificável e equivocada a imposição de barreiras unilaterais que afetam o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, principalmente pelo histórico de cooperação e integração econômica entre os dois países. Segundo os dados do governo estadunidense, os EUA mantêm um superávit comercial de longa data com o Brasil, que foi, em 2024, da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens.
No caso do aço, as indústrias do Brasil e dos Estados Unidos mantêm, há décadas, relação de complementaridade mutuamente benéfica. O Brasil é o terceiro maior importador de carvão siderúrgico dos EUA (US$ 1,2 bilhão) e o maior exportador de aço semi-acabado para aquele país (US$ 2,2 bilhões, 60% do total das importações dos EUA), insumo essencial para a própria indústria siderúrgica norte-americana.
À luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras, o governo do Brasil buscará, em coordenação com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos. Em reuniões já previstas para as próximas semanas, avaliará todas as possibilidades de ação no campo do comércio exterior, com vistas a contrarrestar os efeitos nocivos das medidas norte-americanas, bem como defender os legítimos interesses nacionais, inclusive junto à Organização Mundial do Comércio.